A Cenoura e o Padrão da Raça

A Cenoura e o Padrão da Raça

O senso comum, até mesmo de alguns “criadores”, é muitas vezes equivocado quando o assunto é a cauda ideal dos Bulldogs (padrão da raça). Tal idéia provavelmente foi formada por imagens caricatas e estilizadas de Bulldogs, como o “Spike” do “Tom & Jerry” e de tantas outras de nossa amada raça.

Muitos perguntam se a cauda do seu Bulldog não deveria ser operada, ou até mesmo se o cão é puro, pelo fato de apresentar um rabo reto e maior do que aquele existente no imaginário das pessoas – rabo em formato de rosca ou como se fosse de um porco.

De início é importante registrar que o nascimento de Bulldogs com a cauda incorreta é algo que acontece em quase todos os bons canis do mundo, o que não retira o mérito do criador nem impede que tantas outras qualidades e itens do padrão sejam admirados num exemplar que possua a cauda diferente daquela relatada no padrão.

Porém, cruzar entre si Bulldogs detentores de caudas incorretas é um verdadeiro atentado à raça. O mesmo pode ser dito quando uma pessoa, ao escolher o Bulldog como o seu cão de companhia, busca ou dá preferência, por falta de informação, a filhotes que possuam a cauda diferente daquela preconizada pelo standart da raça. Está formado aí o círculo da desinformação e é justamente esse o singelo objetivo desse artigo, informar!

Mas, afinal de contas, por que a cauda do Bulldog deve ser reta e de comprimento moderado?

Antes de apresentarmos os motivos para tal exigência, importa lembrar que as diferentes raças, com seus defeitos, qualidades e perfis determinados, somente existem graças ao padrão racial de cada uma delas. Em outras palavras, é a observância a características escritas que possibilita você escolher entre um dogue alemão e um bulldog inglês.

No caso do Bulldog, o primeiro motivo por trás da regra do padrão, está estreitamente relacionado à origem da raça, pois os cães formadores do que hoje chamamos Bulldog possuíam caudas longas, característica já verificada no famoso quadro entitulado “Crib & Rosa” de Abraham Cooper datado de 1817, um dos mais importantes registros históricos dos ancestrais do Bulldog moderno.

Além da explicação histórica e evolucionista, a cauda referida no atual standart da raça, encontra justificativa num aspecto cada vez mais em pauta e que diz respeito à saúde física de nossos Bulldogs.

Caudas muita pequenas, mal inseridas ou em formatos diferentes do citado pelo padrão, são fontes de inúmeros problemas de saúde, onde a solução, não raras vezes, passa por um invasivo e complicado procedimento cirúrgico de amputação parcial ou até mesmo total da cauda. É comum em tais rabos assaduras, infecções e até problemas locomotores, devido à má-formação de seus ossos, que nada mais são do que a continuidade da coluna vertebral.

Para que possamos imaginar o que seria a cauda perfeita, pensemos na imagem de uma “cenoura”, de comprimento moderado, larga na base e afinando na ponta. Esse é o fenótipo ou a qualidade que todo o bom criador busca ou deveria buscar em seu plantel, pois bons rabos, em formato de “cenoura”, além de representarem fielmente o padrão da raça, são a garantia contra um sério problema de saúde que acomete muitos Bulldogs.

Dentre os inúmeros tipos de cauda que o Bulldog apresenta, certamente o formato em rosca, ou chamado rabo de porco, é um dos piores “modelos” de cauda, pois, com o crescimento do cão, a cauda tende a ficar cada vez mais encarnada, “aparafusada” ao corpo do animal, oferecendo as condições propícias para o aparecimento de assaduras e demais patologias, principalmente no verão.

Outra variação sobre o mesmo tema é chamada cauda invertida, onde a ponta do rabo ao invés de estar livre e visível, cresce para dentro do corpo, trazendo desconforto, mau cheiro e infecções.

Outros formatos também são comuns como caudas em formato de “maçaneta” ou com a ponta virada para cima, também erradas quanto ao padrão, mas, via-de-regra, não tão maléficas do ponto de vista da saúde.

As caudas muito pequenas – quando o padrão fala em tamanho moderado é justamente para evitar caudas inexistentes ou diminutas – também podem gerar problemas futuros à saúde do Bulldog, pois, com o crescimento do cão, aquela cauda que já era pequena provavelmente ficará atarraxada contra o corpo do cão e toda vez que tivermos calor e umidade o problema aparecerá.

É importante que se diga que as caudas “atarraxadas” ao corpo do Bulldog muitas vezes passam despercebidas aos olhos do seu proprietário quando o cão ainda é filhote, justamente porque o crescimento das vértebras da cauda é mínimo em comparação com o crescimento dos ossos longos e da musculatura do Bulldog. Em outras palavras a cauda vai crescer muito pouco, porém toda a região a sua volta crescerá bastante.

Um método fácil de avaliar a cauda do Bulldog é colocar os dedos indicador e médio entre a base da cauda e o corpo do cão. Se isso for possível de ser feito com facilidade, ok, a cauda não acarretará problemas de saúde.

Já que estamos falando do padrão da cauda, é importante esclarecer que a sua ponta deve estar sempre apontada para baixo, nunca para o lado ou para cima da linha do dorso.

Bulldogs com rabo em rosca ou enterrados precisam ser constantemente monitorados, principalmente no verão após os banhos, pois a umidade e o calor podem desencadear desconforto e assaduras que, se não forem tratadas a tempo, poderão evoluir para um quadro de maior gravidade. Dependendo do caso, a cirurgia acaba sendo a única solução.

No próximo post iremos tratar de outros assuntos também relativos ao padrão da raça.